quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Eita Saudade!

Eita saudade! Saudade daquele tempo em que o forró pé de serra era sucesso. Saudade das músicas em que a mulher era enaltecida e vista como uma musa. Saudade também daquele amor que era exaltado e valorizado na belas melodias das músicas de forró, onde o mais importante era consquistar o coração de uma mulher várias vezes e não o coração de várias mulheres.
Infelizmente tudo isso virou pó, ou melhor, lembranças. A “onda” agora é forró elétrico, estilizado e tudo mais. As pessoas trocaram Luiz Gonzaga por Saia Rodada, Dominguinhos por Aviões do Forró, Alcimar Monteiro por Mulheres Perdidas e por aí vai.
Nas paradas de sucesso não tem mais “Roendo Unha” e “Amor da Minha Vida” e sim, “Lapada na Rachada” e “Quem Vai Querer a Minha Piriquita”.
As antigas letras das canções com melodias bem trabalhadas foram substituídas pelos palavrões. Não se pode mais falar em “letras” de músicas, pois o que observamos hoje são frases sem pé e nem cabeça, com duplo sentido e com refrões fáceis que entram na mente daqueles que gostam de forró, mas que de repente suas letras são esquecidas devido o surgimento desenfreado de muitas outras, tornando-se assim um círculo vicioso que só empobrece o nosso forró.
O que a sociedade não tem conhecimento, ou finge não saber, é que por detrás desse “novo” forró, existem problemas sociais sendo engrandecidos como se fossem aceitavéis em pleno século XXI. Atitudes e palavras que para muitos cidadãos eram sinônimo de desrespeito e falta de caráter, passou a ser sucesso e diversão. As pessoas que formam o senso-comum estão se corrompendo ao longo dos anos e o que relamente agrega valor tem cedido lugar para o que é fútil e vulgar.
Dos problemas socias corriqueiros nas músicas de forró, consideramos os mais graves a desvalorização da mulher e a apologia à violência contra a mesma, provindos de conteúdos machistas abomináveis embutidos nas tais músicas. Além disso, desonram o sexo feminino, porque contribuem para manter uma cultura preconceituosa, em que o homem que "fica" com várias mulheres é o "pegador", o "gostosão" e a mulher que se relaciona com muitos rapazes é chamada de “galinha” e "vagabunda". Além disso, em algumas composições pode-se verificar a divisão sexual dos espaços: o homem na rua e a mulher em casa, como exemplo, temos um trecho da música “Amor, to num bar” que diz: “Alô, tô num bar chego já. Pode ir fazendo a cama. Pra quem te ama. Daqui a pouco amor. Volto pra casa”.
A mulher que era amada, atualmente é vulgarizada nesse tipo de forró que abusa da liberdade de expressão e da falta de censura. Ela é chamada de “rapariga”, “cachorra”, “puta”, “abestalhada” e ainda é uma sado masoquista insaciável. O sexo feminino é maltratado pelos homens, esnobado, feito de objeto sexual e até de “saco de pancada”, e se ainda for malcriada e não andar na linha leva “tapa na bundinha”.
Inventaram até “Locadora de Mulher”, onde tem mulher do tipo que o homem quiser, como se essa fosse um produto descartável, que todos podem usar e devolver quando se cansarem. Chegou-se ao absurdo de criar uma música chamada “Mulher não vale nem um real” que fala: “É hoje que eu vou encher a cara. Pra me esquecer da “fuleragem” da mulher. Eu hoje vou sair fazer “zueira”. Quero acordar de bobeira dormindo num cabaré. Essa mulher não vale nem um real. Eu gosto dela e não é da conta de ninguém. Por isso agora eu digo. Tô decidido! Se ela não ficar comigo não fica com mais ninguém. Mas aí o coro come, a cobra fuma, o bicho pega”.
É necessária a conscientização de todos os cidadãos, sobre esse fato deplorável, para que os mesmos se oponham a qualquer tipo de manifestação de degradação da mulher e ajudem as mulheres nessa busca incessante pela igualdade entre os gêneros. Afinal, vivemos em tempos de progresso na diminuição da desigualdade de gêneros e do machismo, e o reaparecimento desse comportamento é inadmissível, visto que atrapalha a consolidação da mulher como pessoa independente e ávida por respeito e reconhecimento de sua dignidade e competência perante a sociedade.

Um comentário:

  1. O texto está bom. Reflexivo, crítico, faltou um pouco de teoria, de conceitos que nós usamos como insdústria cultural, interacionismo, etc.

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